sexta-feira, 23 de abril de 2010

O começo de tudo

Este post vai ser longo, por isso desde já peço a vossa paciência, prometo que farei com que valha a pena.
O começo desta aventura... Foi precisamente  à meio ano atrás, e parece que foi ontem. Parece que foi ontem que entrei no CIMOB para dar início à maior aventura que me propus a realizar. Intercâmbio.
Poderia ter feito Erasmus, poderia ter escolhido qualquer lugar da Europa, mas não, eu quis ir mais longe, quis atravessar um oceano e estar longe do meu "mundo" durante 6 longos meses.
Brasil foi o destino.
Se me perguntarem se eu sabia no que me estava a meter quando me inscrevi, responderei sem hesitar que Não. Ninguém sabe ao certo no que se está a meter quando decide deixar a sua vida (mesmo que por um determinado período de tempo) para ir para um outro País, uma nova cultura, e reconstruir uma nova vida, uma nova rotina. Ninguém sabe. Ninguém está preparado, por mais que se tente mentalizar, é impossível estar 100% preparado para uma aventura destas.
Mas retomemos o tema central deste post, o início desta aventura.
Lembro-me que foi numa manhã como outra qualquer, levantei-me mais cedo que o habitual, recordo que era uma daquelas manhãs em que não conseguia estar em casa. Despachei-me e fui para a faculdade. Lembro-me que passei pelo CIMOB e recordei o email recebido à umas semanas atrás, no qual constava uma nova vaga para fazer intercâmbio para o Brasil, e pensei, "Porque Não?" A verdade, é que eu achava que o prazo já tinha terminado, mas mais uma vez, o destino estava disposto a mostrar-me que estava enganada...
Assim que entrei a primeira pergunta que fiz foi: "O prazo para concorrer para o Brasil ainda está em Vigor? Sim, a data limite de inscrição termina hoje!"
A aventura começou nesse preciso momento...
Inscrição, uma semana a entregar documentação, e depois, bem, depois foi esperar pela resposta. Achava eu que não seria seleccionada, até que umas semanas depois a resposta chegou,  Voçe foi seleccionada para fazer Intercâmbio.  Foi nesse preciso momento que eu pensei no que me estava a meter, Brasil, 6 meses longe de casa, dos amigos e da família. A hora de comunicar o resultado à família e aos amigos, que tanto como eu, não esperavam que fosse seleccionada, pela escassez de vagas.Mas fui, e não havia volta a dar.
Tudo isto se passou em finais de Outubro e até meados de Novembro andei a tratar de toda a documentação necessária  sem nunca pensar a sério na dimensão da aventura a que me propus. Sempre que contava a novidade, todos felicitavam-me por ter conseguido, e ainda para mais, para o Brasil, ninguém me falou directamente do lado negativo que havia numa aventura destas, todos me falavam no quanto era bom estar fora 6 meses num outro País, principalmente num País como o Brasil. Mas como em tudo na vida, existe o seu lado negativo, e esta aventura também o tem.
Lembro-me do primeiro momento que tive o impacto do lado negativo deste 'projecto', um amigo que está a viver fora tinha vindo passar uns dias e estava de partida de novo para a cidade dele, como tal, fomos todos sair para nos 'despedirmos' dele, como ainda não tinha estado com ele, contei-lhe da novidade assim que o vi. Como todos os outros felicitou-me mas sem grande entusiasmo. Na última noite dele, estávamos todos à conversa, até que ele se aproxima e com a maior frieza possível, me perguntou, Sofia, vejo toda a gente a falar-te do lado bom do intercâmbio, mas, sabes no que te estás a meter? Tens noção que vais estar 6 meses sem a tua família e dos teus amigos? Sabes o que é procurares por um rosto familiar na multidão e perceberes que estás 'sozinha'? Não vais para a Europa.. vais para o outro lado do Mundo, tens um oceano a separar-te de tudo o que te faz feliz... Pensa Nisso.
Assim que ouvi isto, foi como se tivesse levado um abanão. As palavras dele ficaram a ecoar no meu pensamento durante muito tempo. Lembro-me de ficar calada o resto da noite a pensar nas suas palavras... E se eu não for capaz? E se as saudades apertarem muito e eu quiser desistir? E se não aguento os 6 meses longe de casa? Eram as perguntas que se repetiam na minha cabeça incansavelmente. Cheguei a casa e recordo-me de enviar uma msg ao Miguel lavada em lágrimas, como uma simples pergunta,  E se eu não for capaz?
Como sempre, o incentivo foi a sua palavra de ordem, sempre que me sentia a desmoralizar, sempre que o medo me invadia, ele estava lá para me incentivar e dar alento. Muitas vezes ele acreditou mais em mim do que eu,  sempre que precisei ele esteve lá para escutar as minhas dúvidas e os meus medos. Muitas vezes, os meus amigos foram o meu pilar para suportar todas as minhas incertezas.
A verdade, é que nunca necessitei disto, nunca precisei de "sair de casa" para poder ter liberdade. A minha família sempre confiou em mim o suficiente para me dar liberdade total.
Sempre fui  muito comodista e agarrada demais à vida que tinha, para deixar o conforto do meu lar, os meus amigos e a minha família, para me mudar para um outro país que tem um oceano a separa-lo do meu pequeno mundo. Sempre achei que não fosse capaz, mas a verdade é que tenho sido, e hoje estou aqui, do outro lado do mundo a aprender a viver sem os demais.
Entre o processo de inscrição e o momento de partida, não tenho grandes recordações desse tempo, lembro-me de andar completamente absorvida com a entrega de trabalhos, avaliações e o projecto final de curso, e o tempo ia passando. A data de partida estava marcada. 14 de Fevereiro de 2010 no voo das 10.50 da Tap rumo ao Brasil. Na sexta, o jantar surpresa com os amigos, as últimas despedidas, os sorrisos a tentar esconder as lágrimas que teimosamente não deixei deslizar pelo rosto. Estava surpreendida comigo mesma, para quem ia estar 6 meses longe de tudo, estava a aguentar-me muito bem... 
O dia do embarque chegou. Lembro-me que não dormi a noite de véspera, nem a outra, a verdade, é que não me lembro de ter dormido muito essa última semana em Portugal. 
Quando entrei no carro às 7.00 o relógio da temperatura indicava 5 graus, típica temperatura para um dia de Inverno, o ambiente no carro era tenso, e o silêncio reinava entre todos.
Aeroporto. Bagagens. Check In feito. Últimas chamadas. As últimas mensagens a desejar boa viagem. O relógio marcava 10.00horas. Era hora de embarcar. As minhas forças terminaram ali. Assim que abraçei o meu avô, a minha 'farsa' terminou. Chorei que nem uma menina pequena. Não queria ir. Não queria embarcar. Não queria estar 6 meses longe de casa. Tinha medo. Tinha medo de falhar. Pus todos os que estavam comigo a chorar. Em toda a minha vida, não me lembro de ver o meu pai chorar, e naquele aeroporto, abraçado a mim, o meu pai chorou. Lembro-me do meu avô a 'tirar-me' dos braços do meu pai e a relembrar-me que era hora de partir. Lembro-me das suas palavras, "Vai viver a vida, daqui a 6 meses estaremos cá para te receber".
A verdade é que tenho mais saudades do avô João do que de outra pessoa, e penso muito nele. Era ele a pedir e eu metia-me no primeiro voo rumo a Portugal. O meu avô é o meu pilar e estar sem ele é das provas mais duras que tenho vivido aqui. Mas mesmo sem ele os dias vão passando, e a verdade, é que nos habituamos a viver sem aqueles que mais amamos, o ser humano tem essa capacidade extraordinária, de se adaptar à realidade em que vive, porque a bem ou a mal, a vida continua.
E foi isso que aconteceu por cá, a vida seguiu em frente, comecei uma vida nova, criei novas rotinas e novos hábitos. Não posso dizer que tem sido tudo uma maravilha, na verdade, os primeiros 20 dias são os piores, ter que nos habituarmos a uma nova rotina,  a um novo país com uma nova cultura, fazer novas amizades, é o mais complicado. Mas depois disso, a saudade permanece, mas nao de forma tão intensa, aprendemos a ocupar o tempo, e estamos de tal forma absorvidos a viver que acabamos por nos desligar um pouco. Não me interpretem mal, as saudades permanecem, sempre. Sinto falta de todos os que são importantes na minha vida, mas aprendemos a criar uma nova rotina que nos habituamos de certa forma a essa ausência, até porque se não for assim, torna-se impossível de aguentar os 6 meses longe de casa.
Posso dizer que tive a sorte de ter conhecido as pessoas fundamentais no meu Erasmus, cada um, à sua maneira, soube-me cativar,  e sei que criei amizades que vão ficar para o resto da minha vida. Por tudo o que partilhamos diariamente, por tudo o que vivemos, são pessoas que me marcaram e que sei que de certa forma marquei a vida dessas pessoas. Não sei se é por ser intercambista ou se é mesmo do povo Brasileiro, mas todos eles me receberam de braços abertos e fui integrada num grupo de amigos simplesmente fantástico, estão lá para me ajudar no que for preciso, quer seja para ir para a festa, para ajudar  em alguma matéria ou mesmo quando a tristeza toma conta de mim, eu sei que eles estão por lá para me dar uma palavra de conforto, e isso, é fundamental. Sinto como se sempre tivesse feito parte da vida deles. E quando estamos a milhares de km de casa, longe de todos os que amamos, isso é o essencial para nos sentirmos bem.
Sei que a minha vida em Portugal, vai recomeçar assim que chegar, mas acreditem, que na hora da partida, o meu coração vai sentir-se tao pequeno por deixar um País que me recebeu tão bem, e onde eu aprendi a ser FELIZ.

Sofia Rodrigues